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Solidão, Abandono e Aprendizado: uma trajetória no espectro autista

Este é um texto difícil. Comecei a escrevê-lo e apaguei várias vezes. Primeiro, tentei voltar à infância para explicar o sentimento de solidão, mas a dor era intensa demais. Depois, pensei em justificar o afastamento — da família, colegas de escola ou trabalho, da convivência social —, mas desisti.

Eis o autor desse site! hehe
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Não são apenas eles os culpados. Minha família não tinha estrutura (o que não exime os abusos físicos e psicológicos que sofri, sendo chamado de “retardado” por meu pai). Professores não sabiam lidar com alguém que vivia mais no mundo interno do que no externo — mesmo sendo o melhor da classe. E os colegas? Bullying e capacitismo batiam à porta: “o que é diferente deve ser hostilizado”.

Cresci cercado pelo vazio. Sem irmãos acolhedores. Quando buscava me incluir, era motivo de piada. E ao reler esse início, percebo que pode soar como vitimização. Mas não é. Desde muito pequeno, aprendi a me virar sozinho. A lógica dominava, não havia tempo para sofrer.

Passei por escola, ensino médio e faculdade com poucos colegas e uma única amiga verdadeira — a quem ainda escrevo.


Hoje, 47 anos depois

Sou independente, com muitas vivências e apoio de bons profissionais: neuroterapeuta, psiquiatra especializado em TEA adulto, neurologista (tenho epilepsia), nutricionista (com quem luto contra a seletividade alimentar) e medicação eficaz para TDAH, insônia e outras situações.

Minha “rede de apoio” (não gosto do termo) é pequena: três ou quatro pessoas leais que me conhecem, entendem minhas limitações, sabem quando me dar colo e quando preciso sumir. Também encontro acolhimento na espiritualidade que me acompanha desde a infância.


Solidão x abandono — agora com estudos

Quando penso em solidão, não culpo o passado nem os familiares. Sempre tive tendência ao afastamento — talvez uma escolha consciente, talvez uma máscara para o abandono. Em terapia, questiono se isso é autodefesa ou um mecanismo de proteção.

Atualmente sabemos que solidão em adultos autistas é uma “realidade silenciosa” cruel. Estudos mostram que mais de 50% dos adultos autistas relatam solidão crônica. No Reino Unido, 79% dizem sentir-se solitários com frequência, e um terço afirma não ter nenhum amigo ousia.com.br. Isso não é só emocional — está associado à depressão, ansiedade severa e ideação suicida

O mito de que “autista gosta de estar sozinho” é falacioso. Muitas pessoas no espectro anseiam por conexão, pertencimento e afeto — mas a sociedade as descarta ou as margina psicojulio.comousia.com.br. Emissoras de preconceito neurotípico, como o chamado “problema da dupla empatia”, revelam que a desconexão entre autistas e não-autistas é mútua psicojulio.com.

A solidão não é somente um risco psicológico — afeta o corpo. Ela está ligada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares (quase 30% mais), pressão alta, depressão, ansiedade e até mortalidade precoce BBCUnolife. Em pessoas acima de 50 anos, o risco de AVC aumenta em 56% Estado de Minas. Há também aumento de 40% no risco de demência Estado de Minas. No cérebro, a solidão ativa o cortisol, aumentando o estresse e comprometendo a memória e funções executivas Tribuna de MinasMeu Cérebro.

Quando o abandono vem de dentro

Solidão e abandono se entrelaçam para mim: se sinto risco de ser deixado para trás, costumo cortar relações de forma abrupta. Isso já destruiu meu casamento — encerrei tudo sem diálogo, sem pensar no outro.

O aprendizado atual

Hoje, trabalho para entender que a solidão não precisa ser defesa. Preciso de pessoas — mesmo que elas errem comigo, como eu erro. Parte da cura é desconstruir o estigma: “quanto mais me aproximo, mais dói quando partem”. Estar no espectro não significa viver isolado ou vazio.

Não busco uma rede de apoio — quero amigos. Amigos de confiança, de todos os níveis: intensos, leves, de baixa manutenção.

O que peço ao mundo neurotípico

Para você que não está no espectro: ofereça acolhimento, compreensão e aceitação. Crie ambientes seguros. Respeite os meus momentos de solitude — eles não significam rejeição. Esteja presente em crises, desregulações ou silêncios. Aprenda sobre o TEA adulto: conhecimento é cuidado.

Caminhos de enfrentamento

Algumas estratégias ajudam a diminuir a solidão no autismo:

  • Realizar atividades conjuntas em ambientes tranquilos (como cozinhar, limpar ou jardinagem), que promovem interações significativas e senso de pertencimento Caminhos do Autismo.

  • Jogos de tabuleiro ou passeios ao parque também podem gerar laços e reduzir o isolamento Caminhos do Autismo.

  • Grupos terapêuticos, intervenções em habilidades sociais e programas específicos (como PEERS) podem ser muito úteis, embora nem sempre fáceis de encontrar Redditviversantacatarina.com.br.

No mundo online, muitos relatos combinam:

“Uma coisa que une as pessoas é comida, séries e filmes... Encontre algo que gosta e procure quem goste do mesmo”
“Fui forçado a me inserir em atividades sociais – morar em república, praticar esporte, estágio – e deu certo. Desenvolvi habilidades sociais.”

Conclusão

Aos 47 anos, percebo que estar , por opção ou incompreensão, me drena. A solidão pode ser abrigo, mas também cela. A boa notícia é que ela não precisa ser eterna — e que existe a possibilidade de viver com amigos de verdade, trocas genuínas, acolhimento e humor.

Que possamos celebrar a amizade. Que a solitude seja uma pausa merecida, não prisão. E que as conexões construam pontes — entre mentes, corações e caminhar juntos.

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Sobre mim

Sou um homem de 47 anos, autodidata, que cresceu sem estrutura famíliar e sem oportunidades de estudo, mas construiu sozinho uma carreira sólida em tecnologia. Vivi décadas dentro do espectro autista sem diagnóstico, sem tratamento e sem medicação. Hoje, acompanhado apenas da minha cachorra, compartilho minhas experiências para transformar dor em aprendizado e ajudar outras pessoas que vivem no TEA a encontrarem caminhos de acolhimento, força e pertencimento.

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