O autismo Severo
- Jeffaunz

- 19 de jul.
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1. Definição clínica e critérios diagnósticos
O autismo severo corresponde ao nível 3 do TEA no DSM‑5, o mais intenso, que exige suporte substancial a muito substancial ao indivíduo. Esse nível inclui déficits marcantes na comunicação verbal e não verbal, comportamentos restritos e repetitivos que interferem drasticamente na vida diária, além de grande dependência para atividades básicas El PaísVerywell Health. Indivíduos nesse espectro podem ser não-verbais ou com linguagem muito limitada, QI possivelmente abaixo de 50, e necessitam frequentemente de cuidado integral ao longo da vida Verywell HealthVerywell Health.
O diagnóstico costuma ocorrer precocemente (por volta dos 2–3 anos de idade), dada a severidade dos sintomas Verywell Health.

2. Epidemiologia e prevalência
Porcentagem de Autistas Adultos no Brasil
De acordo com o Censo Demográfico 2022 do IBGE, o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), representando 1,2% da população total. Porém, os dados por faixa etária mostram que a prevalência do diagnóstico é muito maior em crianças e jovens, diminuindo nos grupos adultos.
Percentuais por Faixa Etária
Adultos de 18 a 24 anos: 0,9%
Adultos de 25 anos ou mais: 0,8% a 1,0% (varia conforme a faixa etária)
O Censo identificou que o diagnóstico é mais comum entre crianças e adolescentes. Já entre adultos, especialmente acima dos 25 anos, o percentual diagnosticado é inferior a 1%.
Considerações Importantes
Esses números se referem somente a pessoas diagnosticadas formalmente; subnotificação é comum, já que muitos adultos brasileiros ainda não recebem diagnóstico de TEA.
A metodologia do IBGE baseia-se em autodeclaração feita por alguém do domicílio — ou seja, podem existir pessoas adultas sem diagnóstico incluídas nessa estimativa.
Referências
Os dados oficiais são do Censo Demográfico 2022 do IBGE, divulgado em maio de 2025—primeira vez que o censo brasileiro trouxe dados específicos sobre autismo na população adulta.
Faixa Etária | % de adultos com diagnóstico de TEA |
18 a 24 anos | 0,9% |
25 anos ou mais | 0,8% a 1,0% |
Resumo: Cerca de 1% dos adultos brasileiros têm diagnóstico de autismo, conforme os dados oficiais mais recentes.
Resumindo de forma prática e real, existem milhares de adultos no Brasil vivendo com o TEA e suas dificuldades, em diversos espectros e níveis sem um diagnóstico, acompanhamento e tratamento.
3. Fatores de risco e etiologia
Genética complexa: múltiplos genes envolvidos, mutações de novo (não herdadas) também desempenham papel importante, especialmente nos subtipos mais graves The Sun.
Algumas síndromes genéticas estão associadas a formas graves, como síndrome do X frágil, Rett, esclerose tuberosa, entre outras.https://www.verywellhealth.com/severe-autism-11722656
Fatores pré e perinatais aumentam o risco: prematuridade, hipóxia, hemorragia intraventricular, síndrome alcoólica fetal, infecções neonatais, exposição a metais pesados ou traumas perinatais são mais frequentes entre crianças com TEA PMC+7PMC+7Verywell Health+7.
4. Comorbidades médicas e psiquiátricas
4.1 Transtornos psiquiátricos
TDAH: presente em cerca de 50–70 % dos casos de TEA; é a comorbidade psiquiátrica mais comum Autism Spectrum NewsPubMedNCBI.
Ansiedade e depressão: ansiedade entre 26–30 %; depressão entre 13–26 % ou mais em adultos Autism Spectrum NewsNCB.
Outros: transtorno bipolar (~11 %), TOC (~7–10 %), esquizofrenia infantil e outros apresentam prevalência maior em comparação com a população geral Autism Spectrum
Transtornos psiquiátricos coexistem em 85 % dos casos, podendo levar a uso de psicofármacos em 35 % Autism Spectrum News.
4.2 Comorbidades neurológicas e físicas
Epilepsia: acomete entre 30 % a 60 % das pessoas com TEA; EEG anormal em até 60 %; pacientes com deficiência intelectual têm risco ainda maior PMCPubMed
Transtornos gastrointestinais são comuns (entre 46 % e 84 %), incluindo constipação crônica, refluxo, dor abdominal, intolerâncias alimentares PubMed.
Distúrbios do sono: até 80 % dos indivíduos com TEA podem apresentar insônia, apneia, despertares frequentes PubMed.
Macrocefalia, alergias, obesidade, distúrbios metabólicos e imunológicos são também mais prevalentes em comparação à população geral FrontiersSpringerLinkPubMed.
Mortalidade aumentada, frequentemente causada por complicações médicas como crises epilépticas, distúrbios gastrointestinais ou doenças cardíacas; expectativa de vida pode ser reduzida especialmente se houver epilepsia com deficiência intelectual.
5. Impacto funcional e cuidadores
Indivíduos com autismo severo geralmente não vivem de forma independente, necessitando cuidados diários e supervisão constante Verywell Health.
O impacto atinge todas as áreas: alimentação, higiene, locomoção, comunicação, regulação sensorial, interação social e segurança.
Cuidadores familiares enfrentam carga intensa, emocional, física e econômica, com necessidade recorrente de suporte profissional e comunitário Verywell HealthPubMed.
6. Intervenções e terapias disponíveis
Não há cura para o TEA, mas intervenções podem melhorar habilidades adaptativas e qualidade de vida:
ABA (Análise do Comportamento Aplicada) para redução de comportamentos desafiadores e aumento de habilidades.
Terapia da integração sensorial para reorganizar respostas sensoriais.
Treinamento de comunicação alternativa (como PECS, comunicação aumentativa e alternativa).
Tratamento medicamentoso para ansiedade, agitação, comorbidades psiquiátricas e crises epilépticas Verywell HealthVerywell Health.
Sempre associadas a um programa interdisciplinar (fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, apoio nutricional).
7. Perspectivas recentes e pesquisas emergentes
Estudos recentes sugerem subtipos genéticos distintos de autismo, com um grupo específico associado a formas mais graves e novas mutações de alto impacto The Sun.
Pesquisa identificou uma sequência de DNA de 24 letras essencial ao desenvolvimento cerebral (proteína CPEB4), cuja ausência pode estar fortemente ligada a muitos casos de TEA e que, eventualmente, pode abrir caminho para terapias direcionadas em adultos El País.
8. Síntese de dados principais
Aspecto | Dados principais |
Prevalência de TEA | ~1‑1,8 % da população infantil; ~27 % nível 3 |
Hereditariedade | ~80‑90 % |
Comorbidades psiquiátricas | ADHD em ~50‑70 %, ansiedade ~26‑30 %, depressão ~13‑26 % |
Comorbidades neurológicas | Epilepsia em ~30‑60 %, EEG anormal em ~60 % |
Gastrointestinal e sono | GI em 46‑84 %, distúrbios de sono em até 80 % |
Causas de mortalidade | Complicações médicas – epilepsia, GI, doenças cardíacas |
9. Considerações finais
O autismo severo é um quadro complexo de alta demanda de cuidados, amplamente influenciado por genética e também fatores ambientais pré-natais. Suas comorbidades – psiquiátricas, neurológicas e médicas – aumentam o desafio diagnóstico e terapêutico. Estratégias baseadas em evidência, personalização do cuidado e suporte contínuo à família são fundamentais para promover desenvolvimento, reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida.
Referências bibliográficas principais (estilo Vancouver)
Verywell Health. Understanding Severe Autism (Level 3) and Its Impact on Daily Life. Junho 2025. Verywell Health+1Verywell Health+1
Verywell Health. What Is Severe Autism? [from 2010].
SPARK comorbidity data: Prestes et al. Comorbididades médicas em TEA (2021).
Autism Spectrum News – Bennett, 2022: prevalência psiquiátrica em TEA. Autism Spectrum News
PMC/Sleep & GI disorders review (Baishideng 2021). PubMed
PMC Neurological comorbidities review (2021). PubMed
Systematic review: prevalência de TEA e comorbidades pediátricas (2021). PubMed
Epidemiologia global do autismo e mortalidade (Wikipedia e estudos associados).
Princeton/Simons Foundation: subtipos genéticos do autismo (Julho 2025). The Sun
Descoberta da proteína CPEB4 em TEA (El País, Dez 2024). El País
IBGE 2022.



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