Julho: O Mês das Memórias e Aprendizados
- Jeffaunz

- 8 de jul.
- 5 min de leitura
Julho se tornou um mês muito pesado e difícil para mim, mais que dezembro - e olha que dezembro, com todo o peso do Natal e as questões familiares que resolvi cortar há alguns anos, já não era fácil. Mas julho... ah, julho carrega um peso diferente. É o mês das memórias que se recusam a desbotar, das lembranças que insistem em voltar mesmo quando tentamos seguir em frente.

O Começo de Tudo
Foi em julho de 2022 que me apaixonei de uma forma que nunca havia experimentado antes. Não foram palavras ou gestos grandiosos - foi simplesmente o contato visual. Algo que raramente faço, diga-se de passagem. Tenho o costume de olhar na ponta do nariz das pessoas para que achem que estou olhando nos olhos durante uma conversa (pequeno truque de quem vive dentro do TEA, hehe). Mas dessa vez foi diferente. Nossos olhares se encontraram e algo mudou para sempre.
Vivi experiências intensas naquele julho, mês em que iniciamos uma paixão, um amor que cresceria e se transformaria ao longo de dois anos. Ironicamente, foi também em julho que terminamos essa história - exatos dois anos depois. O destino tem seu senso de humor peculiar, não é mesmo?
Um Amor Fora do Convencional
Nossa história foi uma que foge completamente do convencional. Cheia de luta, resiliência, gatilhos, saudades, ausência e novas experiências. Meu marido trabalhava na Europa durante sete meses do ano e passava apenas dois ou três meses no Brasil, em nossa casa. Nesses períodos, vivíamos o melhor do amor, mas também enfrentávamos as dificuldades das minhas crises e as constantes trocas de medicação.
Era uma época em que me sentia "castrado" emocionalmente pela má abordagem médica - tanto remédio que me deixava anestesiado para a vida. Em meio a isso tudo, conheci uma nova forma de vivenciar o amor, uma proposta que eu mesmo sugeri de forma lógica e sem muita possibilidade de discussão de casal. Sempre pensando no bem dele, sempre pelo bem dele.
Decidimos viver de forma monogâmica enquanto ele estava em casa e livres enquanto nossos corpos estavam separados por milhares de quilômetros durante os longos meses de ausência. Pode parecer estranho para muitos, mas eu achava que funcionava para nós (mesmo ele insistindo que não era necessário, da mesma forma que não era para mim, mas era inflexível, tinha de ser assim! Era por ele). Nossa rotina era simples: algumas mensagens durante o dia, chamadas de vídeo pequenas em suas pausas de trabalho e, do nosso jeito único, éramos felizes.
Os Pilares do Nosso Amor
Amor, carinho, afeto, cuidado, cumplicidade - esses foram os pontos-chave que nos mantiveram firmes. Quando o primeiro retorno aconteceu, foi como se o mundo ganhasse cores novamente. Bum! Era meu hiperfoco, minha pessoa especial estava de volta.
Pouco tempo depois nos casamos, numa tarde fria onde existiam duas realidades completamente diferentes:
A minha: era sobre casar-se, vivenciar uma experiência de família que eu não conhecia, ter realmente alguém no mundo - algo de que sempre corri em outros relacionamentos. Era sobre pertencimento, sobre ter um lar emocional.
A dele: era sobre me fazer feliz. Casar não era sua vontade ou meta de vida. Seu sonho era continuar desbravando o mundo, um garoto de 24... 25 anos, autodidata que falava mais de seis idiomas fluentes. Mesmo assim, lá estava ele sorrindo comigo, escolhendo ficar, escolhendo construir algo comigo.
Quando a Rigidez Venceu o Amor
Com o passar do tempo, a saudade, a falta, a insegurança e o medo fizeram com que aquilo que me é nato - a rigidez e a inflexibilidade - não me possibilitasse encontrar outro caminho. Como sempre acontecia na minha vida, entre o diálogo e pôr um fim, escolhi o fim. No mês de julho, ainda longe fisicamente, encerrei nossa história.
Foram meses sem contato até que chegasse outubro e nos encontrássemos para assinar o "divórcio". Que palavra estranha para algo que foi tão cheio de vida e amor.
O Despertar Doloroso
Levei alguns meses para entender o que havia feito e, principalmente, a forma como fiz - errada, precipitada, unilateral. Quando finalmente consegui sentir a dor de uma vez só, foi avassalador. Muita terapia, muitos questionamentos para poder seguir em frente. Precisava verbalizar, precisava entender, mas já tínhamos perdido o contato.
Foi então que percebi algo que me envergonha até hoje: esqueci que minhas ações não refletiam só em mim (ou fui egoísta demais para me importar), mas que também refletiam nele. Não questionei se ele estava com dor ou o que sentia com tudo aquilo. Fiz o que EU achava melhor para ele, sem nem ao menos perguntar sua opinião.
A Carta e o Perdão
Em fevereiro, num trabalho terapêutico profundo, escrevi uma carta falando sobre os entendimentos das minhas ações e erros. Não era sobre ele, mas sobre minhas ações, sobre minha responsabilidade no que aconteceu. E pela primeira vez na vida, pedi perdão a alguém - verdadeiramente, sem orgulho ferido, sem justificativas.
Não sei se ele leu, não sei se importou, mas eu precisava fazer isso por mim, pelo meu processo de crescimento.
Julho Eterno
Passou o tempo, novas possibilidades e pessoas apareceram e vão aparecer. A vida continua, como sempre continua. Mas julho... ah, julho vai ser sempre o mês da lembrança, o mês onde tive de aprender a lidar com minha rigidez, apatia e inflexibilidade.
Foi onde entendi que tudo e todos que "perdi" ao longo da vida vieram dessa junção de características que ainda estou aprendendo a lidar. Julho se tornou meu professor mais rigoroso, aquele que me ensina as lições mais importantes através da dor.
Reflexões Finais
Talvez o mais importante que aprendi seja que rigidez e inflexibilidade, quando disfarçadas de proteção, podem destruir exatamente aquilo que queremos proteger. Que tomar decisões pelos outros, mesmo com boas intenções, é uma forma de não respeitá-los em sua autonomia.
E que o amor, mesmo quando termina, mesmo quando machuca, mesmo quando nos ensina através da perda, sempre vale a pena.
Julho continuará sendo pesado, mas agora carrega também a sabedoria de quem aprendeu que é possível amar de forma mais madura, mais respeitosa, mais consciente.
A vida continua, julho volta todo ano, e eu sigo aprendendo.
Como Jão canta em uma de suas músicas, há coisas na vida que nos marcam de forma irreversível. Julho é isso para mim - uma marca, uma cicatriz bonita que me lembra de quem eu era, de quem me tornei e de quem ainda posso ser.
JULHO
Julho tem passado lento
Engraçado, nem o tempo
Consegue encarar
O jeito que você tentou
Escolher cada palavra
Pra não me machucar
E eu me lembrava assim de julho
Férias da escola, frio, amigos juntos
Adiando agosto, eu tinha tudo
Tudo, e agora
Julho é tudo que a gente não vai mais ser
Julho é ler o que você deixou
Dizendo que não tinha mais como ficar
Julho é lembrar que fui eu quem ficou
Julho é só deixar o tempo te esquecer
Agora, julho é você
Os dias tem sido mais fáceis
Mas sempre existe essa cidade
E ela insiste em me lembrar
Dos lugares que dormimos juntos
Nossos endereços mais ocultos
Eu te dizia que eu sentia tudo
Tudo, e agora
Julho é tudo que a gente não vai mais ser
Julho é ler o que você deixou
Dizendo que não tinha mais como ficar
Julho é lembrar que fui eu quem ficou
Julho é só deixar o tempo te esquecer
Agora, julho é você
E em cada canto que eu vou
Eles me perguntam se
Eu já sei o que o amor
Vira quando chega o fim
Mas como eu poderia?
Se eu ainda estou aqui
Se eu ainda me lembro de tudo
Se eu ainda estou em julho
Agora, julho é você
Composição: Jão / Pedro Tofani / Zebu



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