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Meus Espectros — Um Nascimento em Palavras

Atualizado: 8 de jul.

Começar... ah, começar! Começar é, de certa forma, um segundo nascimento. Um rito silencioso, íntimo, que não se faz com choro nem com aplauso, mas com suspiros tímidos, incertezas que tremem nas mãos e um universo inteiro pulsando dentro do peito. É um gesto invisível, mas grandioso: abrir a porta do desconhecido e, ainda que não se saiba o caminho, dar o primeiro passo.

Começar é como nascer de novo, é olhar o mundo com olhos que ainda não sabem tudo, é tropeçar nas próprias ideias, é balbuciar pensamentos que ainda não se tornaram frases completas. É errar, é ajustar, é experimentar. É crescer. São os primeiros pensamentos, os primeiros olhares sinceros para dentro de si. São as palavras engatinhando, as ações se alinhando, os entendimentos chegando em ondas. É amadurecer aos poucos. É errar, refazer, acertar, perder o foco, reencontrar o caminho, planejar e, às vezes, simplesmente deixar fluir.


E assim, nesse exato compasso, nasce este projeto — “Meus Espectros”, uma semente que carrego no ventre da minha mente há tempos. Uma gestação não feita de meses, mas de anos, de dores, de dúvidas, de silêncios e, sobretudo, de descobertas. Algo que cresce dentro de mim, entre a esperança e o receio, entre a vontade de existir no mundo e o medo de que, sem cuidado, caia no esquecimento — como tantas coisas que negligenciamos de nós mesmos.


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Este projeto surge da necessidade visceral de transformar em palavras aquilo que minha boca, muitas vezes, não consegue traduzir, de dar voz ao que, em mim, muitas vezes, não ecoa no tom típico, nem na clareza esperada, nem no formato socialmente aceito como comunicação. Escrever, aqui, é mais do que relatar: é existir, é resistir, é tentar ser entendido, ainda que nunca tenha sido plenamente lido pelo olhar do mundo.

Carrego comigo muitos anos de mergulhos profundos na terapia — às vezes uma vez, às vezes duas por semana —, cavando, retirando camadas, desenterrando pedaços de mim que nem sabia que estavam soterrados. Tentando, enfim, compreender esse “eu real” que sempre existiu aqui, escondido, sufocado, disfarçado, sobrevivendo dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e do TDAH.

Este espaço não é só sobre mim. É sobre tantos que, como eu, cresceram invisíveis aos olhos da compreensão, tentando caber em moldes que nunca foram feitos para nós.

Pouco se fala — quase nada, na verdade — sobre o autismo na vida adulta. O mundo se mobiliza, investe, acolhe (ainda que minimamente) crianças autistas, mas, quando essas crianças crescem... há um silêncio ensurdecedor. Onde estão os profissionais preparados? Onde estão os espaços de escuta, de apoio, de orientação? Somos uma geração de autistas adultos desamparados, tentando, muitas vezes sozinhos, juntar os cacos de uma vida inteira de tentativas frustradas de ser "normal".

E é por isso que eu estou aqui, abrindo essa janela, acendendo essa lanterna, escrevendo essas linhas — às vezes tortas, às vezes firmes —, para quem, como eu, procura se enxergar no espelho da existência.

“Meus Espectros” não é só um nome, é o retrato de tudo aquilo que me atravessa. São os fantasmas que caminharam comigo, os brilhos e os apagões da minha mente, as hipersensibilidades, os colapsos, os hiperfocos que me abraçam e, às vezes, me esmagam. É, sobretudo, a tentativa de transformar o invisível em palavra, de fazer do silêncio um texto, e da dor, um ponto de encontro, onde quem leia talvez possa, enfim, se reconhecer.

Por aqui vou compartilhar pedaços da minha jornada, impressões dos meus dias, memórias das terapias, experiencias com a farmacologia a junto a minha equipe médica, reflexões sobre os caminhos, as quedas, os avanços, os tropeços e os respiros.

E que esses artigos, essas escritas, sejam alívio para quem carrega peso demais. Sejam entendimento para quem viveu uma vida inteira achando que havia algo de errado consigo, quando, na verdade, só faltava tradução.

Sejam companhia para quem, tantas vezes, acreditou estar sozinho no mundo.

Sejam muito bem-vindos! Que aqui a gente se encontre — nas palavras, nos silêncios, nos espectros... e na possibilidade de, juntos, nos tornarmos mais inteiros..

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Sobre mim

Sou um homem de 47 anos, autodidata, que cresceu sem estrutura famíliar e sem oportunidades de estudo, mas construiu sozinho uma carreira sólida em tecnologia. Vivi décadas dentro do espectro autista sem diagnóstico, sem tratamento e sem medicação. Hoje, acompanhado apenas da minha cachorra, compartilho minhas experiências para transformar dor em aprendizado e ajudar outras pessoas que vivem no TEA a encontrarem caminhos de acolhimento, força e pertencimento.

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