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Caos! As convulsões

Atualizado: 8 de jul.

"Noite sem fim"


Venho de um processo longo… dolorido…

Convulsões silenciosas, adormecidas, como feras escondidas na sombra,

sempre à espreita…

Foram anos em que elas vinham de mansinho,

tímidas, espaçadas, quase como se pedissem licença pra existir.


Mas a vida, às vezes, não pede licença.

Ela chega… rasga… arrasta tudo.

E, no ano passado, quando o chão se abriu sob os meus pés,

quando o tal “divórcio” rompeu não só um laço,

mas um pedaço inteiro de mim,

meu corpo gritou.

Gritou no único idioma que sabe falar quando a alma não aguenta mais:

o idioma da crise, do colapso, da convulsão.


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De lá pra cá, os médicos tentam decifrar esse enigma chamado eu.

Tentam entender como acalmar esse cérebro que vive aceso demais,

em alerta demais, em dor demais.


E aqui estou eu...

Com apoio de amigos,

no colo possível que me restou,

seguindo um tratamento pesado, denso, quase sufocante:

lítio em superdosagem.

Uma química que parece ora cura, ora veneno.

Uma tentativa desesperada de calar o caos,

como quem joga água no incêndio,

mas também se afoga junto.

É uma montanha-russa sem cinto de segurança.

Um vendaval de sentimentos.

Dores físicas que se misturam com dores que nem nome têm.

E um looping interminável de pensamentos —

como se meus próprios neurônios estivessem recebendo choques,

tentando, sabe-se lá como, se alinhar, se regular, se entender.


Fico aqui, me perguntando…

O que nos trouxe até aqui?

Em que esquina da vida foi que eu me perdi de mim?

Ou será que, na verdade, sempre fui essa versão desalinhada,

atípica, intensa, fora do molde — e só agora tudo veio à tona de vez?


Ser Autista não é um rótulo bonito nas redes sociais.

Não é poesia bonita no feed.

É viver dentro de um corpo e de uma mente que não seguem os manuais.

É ter hiperfocos que te consomem.

Inflexibilidades que te esmagam.

Seletividades de pensamento que te isolam.

É ser diferente num mundo que exige, o tempo todo,

que você aja como se fosse igual.


E, claro, as pessoas…

Ah, as pessoas…

Elas olham, julgam, interpretam,

sempre a partir do próprio olhar típico, limitado,

sem nunca entender que pra gente

o mundo tem outro peso, outro volume, outra textura.

Pra nós, viver exige esforço dobrado.

Respirar exige manual.

Acordar e simplesmente existir… é atravessar um campo minado,

todo santo dia.


Por mais que haja amor, apoio, cuidado — e há, eu sei que há —,

a verdade nua, crua e cortante é que

nessa travessia,

nessa noite sem fim,

a gente anda sozinho.

Cada passo, cada dor, cada silêncio,

é um diálogo íntimo entre mim, meu corpo, minha mente e meus fantasmas.


E que esse lítio, hoje,

não seja só remédio nem só veneno.

Que ele intoxique, sim, os pensamentos ruins,

que mate as culpas que me foram enfiadas goela abaixo,

que cale as vozes que me disseram que eu não era o suficiente.


Que ele — quem diria — me ajude a abrir não só a cabeça,

mas também o coração,

pra que, quando essa tempestade passar,

eu ainda tenha força pra recomeçar.


Lições?

Não.

Obrigado.

A vida já me ensinou mais do que eu jamais pedi pra aprender.

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Sobre mim

Sou um homem de 47 anos, autodidata, que cresceu sem estrutura famíliar e sem oportunidades de estudo, mas construiu sozinho uma carreira sólida em tecnologia. Vivi décadas dentro do espectro autista sem diagnóstico, sem tratamento e sem medicação. Hoje, acompanhado apenas da minha cachorra, compartilho minhas experiências para transformar dor em aprendizado e ajudar outras pessoas que vivem no TEA a encontrarem caminhos de acolhimento, força e pertencimento.

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